Fantasma Ocasional
Sozinha,
Escrevo.
Olho para as luzes da cidade
Ou serão elas a olhar-me?
Sou um agente
Ou um paciente
Na minha vida?
Talvez seja um fantasma.
Se o for,
Sou como o do Pessanha:
Que não chateia
Nem se chateia
Um fantasma cujas mãos
Escrevinham e
Fazem desenhitos.
Hei-de assombrar-vos a todos.
É por esta altura
Que algum professor de português,
Muito empertigado,
Se vira e diz para todos
Pois aqui estabelece o poeta uma
Contradição:
Ora diz que vai estar quieto,
Logo a seguir declara o assombro
Que há-de fazer
Mas aí é que se
Enganam.
Que não sou poeta
E que nem fantasma sou.
De vez em quando parece que sim
Mas quase sempre
Acho que não.